segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Acardio



A parte exterior do sujeito despenca em queda vertiginosa rumo ao núcleo denso e frio. Implodiu. Como uma anã branca, mal podia ser vista no céu, acuado no último lugar de um universo infinito. Buraco negro. Agora nem a luz escapa à sua desastrosa gravidade. Tudo é pura gravidade. Agora não é mais agora, nem antes ou depois, agora nem o tempo faz sentido.

De volta ao plano terrestre, a astróloga não ajuda. Saturno satura Netuno com influência da Lua minguante deixando o dia propício pra ficar calado. Em busca de uma segunda opinião, descobre-se que os búzios não mentem. Não dizem a verdade também. Os búzios não falam.

O coração ainda bate, bate forte, bate bem. O coração espanca. A vida, o espaço, o mundo agora é a lona. É ela a cortejada pelos beijos banguelos do derrotado acardio. Dentro dele, descoraçado, só se ouve o pulso das últimas lágrimas que pingam regularmente dentro de um balde cinza.

É outro dia, ele consulta o horóscopo. Fica sabendo então, pelo mesmo jornal, que um buraco negro ameaça engolir do Sol a Plutão. Sente o tecido do tempo e da lona se distorcerem rumo à singularidade iminente. O firmamento é um espelho dramatizando em reflexo sua insignificância.

Sabendo que está testemunhando o fim de tudo, enquanto Urano se desmaterializa em poeira cósmica, vê seu coração sacana se desprendendo do pódio e um grupo de astrólogos agonizarem rumo ao buraco. Sente a ausência, conhece a paz.

2 comentários:

Anônimo disse...

e esse lance de escrever em terceira pessoa hein, tem q ver isso aí.

animal oportunista disse...

é tipo fazer comentário anônimo, né?