quarta-feira, 16 de maio de 2012

Pé de Cachimbo



Hoje é domingo e, aos domingos, acho, eles não rezam na mesquita vizinha. O gato ta com muita fome, mesmo depois de ter comido todo o polvo que tinha sobrado e não tem luz. Não tem. Aqui tá menos que escuro. Menos. Pois os postes e aqueles faróis da rua buxelam fantasmas nessas paredes mal pintadas da sala e o computador que renderiza um vídeo destinado ao facebook, ofusca meus olhos e cega a casa. Mas ilumina com o seu jeitinho peculiar e o gato percebe isso da sua maneira. Amanhã aquela água na garrafa vai me limpar da poeira acumulada hoje e eu vou encarar o escritório com cara de pau e fotos novas. Fotos de uma felicidade real de domingo, de sábado e de ilusões. Dessas reais mesmo. Das compartilhadas pela internet. O bom é que as ilusões hoje em dia são mais reais, têm uma cara e um livro pra serem descritas, até pelo mais maneta dos semianalfabetos. Hoje algumas fotos, gigas e um monte de lixo compõem ilusões tão bem descritas que não faltam situações reais duvidosas – aquelas sem as máquinas registrando e com muito grito e suor pingando. Esses nadas da vida e da lida, cada vez mais raros, são menos que nunca (nem são) e ninguém é mais capaz de lembrar da semana passada. A noite morna, embalada por gente gritando um português negróide nas ruas é macia e lubrificada com cerveja local. As questões e os tostões já não fazem nem cócegas. Como não vou bater em ninguém, castigo o teclado com esse batuque impreciso. Como nada conecta e a energia escasseia, amanhã de manhã, eu aqui, pequeno terrorista, bocejo e publico este texto que você lê agora – num tipo errado de hoje.

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