segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Infinito Ganha De Todos



...E agora eu preciso viajar. A mala já está pronta, o mundo parece mais manso e aquelas unhas enormes que as coisas tem já não doem tanto quando arranham. Depois de dobrar tudo em pequenos rolos e enfiar na minha cabeça, sentei em cima e dei uns pulinhos até conseguir prender a presilha.
Muito bem! — grita alguma parte inofensiva do sujeito — Vai catando essa papelada aí, e essa sujeirinha aí também, queima o que sobrar, escaneia tudo e depois taca fogo no scanner também! Você deve deixar tudo como quando lhe foi entregue. Está no contrato... Isso mesmo, assina o contrato.

Olha, Depois que essas coisas começam a acontecer não resta muito do sujeito, não.


Outro dia, né, eu fui novamente até aquele cubículo para fumantes do prédio. É o tipo de lugar onde, além de um pouquinho da sua saúde, o cigarro acaba te tirando aquela pontinha de dignidade que o trabalho parece oferecer, e o charme pigarrento prometido nos filmes. Só mais um com os dentes amarelos. Você se lembra toda vez que entra lá que jamais terá os culhões necessários pra fumar no meio da redação e cuspir a fumaça na cara de quem vier reclamar. Lembra-se, subretudo, que qualquer coisa nesse sentido seria algo bem idiota de se fazer. E, fora aquele povo detestável, digo, todos aqueles do marketing mais todo o resto quando estão nas salas de reunião, você, enquanto fuma, é a pessoa mais próxima no prédio do que um dia foi um rio chamado Pinheiros. Você fede, e está de frente para a coisa mais fedida que se pode conceber. Não sei se existe uma medida pra isso. Se não existe deveria existir, e de fato, é óbvio que existe, mas eu realmente não sei do que se trata. Tipo assim, decibéis de cheiro, de fedor e tal. É que, na verdade, aquilo é uma monte de fedor escorrendo e usando um rio como desculpa pra isso. Foi lá que eu vi um avião enorme caindo, isso enquanto a porta do fumódromo se fechava e eu instintivamente me preparava para alertar a todos sobre o desastre. Isso durou milésimos de segundo, mas aconteceu, na minha cabeça, é claro, depois passou.


Imagine-se todo fatiado, junto da mulher que você ama, e ela também está toda fatiada. mais ou menos como postas de salmão, ou pepino picontado numa salada ornamental. E vocês tão mortos, acabou, já era! Daí vem o Nick Fury e te veste numa roupa de mergulhador de forma que você fica coeso de novo, inclusive, vivo de novo. E a sensação das fatias do seu tronco escorregando umas nas outras é bem agradável na verdade. Pois eu ainda estou tentando interpretar esse sonho...

A novidade de Brasília, dessa vez veio de um amigo que mora com minha irmã. A Rai, que é empregada doméstica da casa tinha motivos de sobra pra se chatear naquele dia. Acontece que a mulher dela passou muito mal, sua vagina sagrava às bicas enquanto Rai desesperada a levava pro Hospital de Base. Talvez naquele momento Rai se concentrasse em, de alguma forma, diagnosticar o problema. "Deus é que costuma fazer essas coisas estranhas..." pensara Raimunda, "...mas pode ser outro tipo de doença mesmo". Num ôniubs lotado, os pés dos passageiros se melecavam com o viscoso gel sangrento que brotava por entre as pernas de sua amada, misturado com toda aquela lama dos sapatos em dias chuvosos e o gorfo ultrajante dos bêbados que voltaram do bar no primeiro turno. As janelas, que fechadas protegiam todos do temporal, deixava tudo consideravelmente mais difícil de lidar. Uma hora ou duas depois elas já estavam no ambulatório onde foi diagnosticado o problema: Uma criança. Ah, isso deixou Rai meio P da vida. É evidente que ela jamais depositara material genético adequado para fazer uma criança florescer do ventre de sua mulher – mas até que era bonitinho. E o menino foi batizado: Felipe. Eu é que não poderia sonhar com alguma coisa assim. Imagine só, Antônia, a que pariu, não tinha a menor idéia que estava grávida até então. Parece que tudo tem um pouco a ver com os mais de cem quilos de banha que ela carregava em seu próprio organismo a mais de quinze anos. Não sei direito. Elas ainda não resolveram a questão do óbvio adultério. Não importa. Enfim, nada disso alterou em de fato a minha realidade, mas mexeu um pouco na forma de entender as coisas. Não sei direito como ainda.

Isso foi um sonho, depois uma lembrança, depois uma coisa que eu ensinei pra alguém tão ingênuo quanto eu, depois foi um sonho e agora é só uma lembrança. É simples assim: papai e mamãe caminham em direção à luz, a sementinha sai do papai, entra na mamãe. Isso, num lugar cinza, quase preto com uma luz quase amarela no fundo. Papai e mamãe não passam de uma silhueta mal desenhada, e a sementinha, não por acaso, tal como uma bola-de-gude daquelas que podem simplesmente sair voando de debaixo das pernas do papai para a da mamãe faz exatamente isso que ela é capaz de fazer. Sai voando de um pra outro enquanto os dois prosseguem com as mãos dadas. Depois se enterra a mamãe por nove meses, ao lado do supermercado popular da 413 Sul, num caixão especial e tosco com espaço pra dois corpos. Não se esqueça de escolher um cadáver bonito pra colocar ao lado da mamãe, de preferência de algum avô ou bisavô dispensável, e dá um pouquinho de maconha pra mamãe relaxar. Nove meses depois, peça autorização pro gerente do supermercado, viole a cova e retire a mamãe e o bebê que estará bem desconfortável por entre os ossos duros do ente querido escolhido. Limpe o bebê, dê-lhe um tapinha no bubum. É assim que os bebês nascem, seu bobo.

"Escolha a realidade adequada, se esforce um pouco menos que costuma fazer para vencer a prisão de ventre, e depois pare de ponderar, vai ser tarde demais" Teria dito um velhinho da montanha caso não tivesse morrido de fome, frio e asfixia e depois ser devorado por abutres. No mundo ocidental poderíamos interpretar isso como "Eu poderia estar matando, roubando, mas estou aqui, pedindo esmolas como um tolo pobre e sujo". É o que sempre dizem esses mendigos antes de morrerem de fome, frio ou bala perdida e depois serem devorados por tablóides pouco menores que abutres. Eu poderia estar limpando seu carro, te servindo piizzas ou passando panfletos, mas estou aqui, humildemente pedindo para estudar um pouco, como um pobre tolo e sujo. Ah, eu também preciso de amor, dinheiro e álcool. Por fim, deixe-me esvaziar essas malas que já estão pesando muito.

3 comentários:

Anônimo disse...

Ave... what a mess...

bjs, ju

maria disse...

what the fuck???

foi desta que trituraste os neuronios

Eva disse...

é só o jeitinho meigo do zé pedir emprego.

[eu já fumei no meio do escritório,
mas era outro século]