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wake up X sleep down
Pior que ir dormir é acordar.
Às oito da manhã a cidade pulsa, os chapas rasgam o asfalto, os homens trabalham e fingem que trabalham, as mulheres idem. Os sol africano no inverno acalenta as peles pretas, brancas e arábicas do povo que, acordado, se cruza, se ignora e vive lá fora. O tele-móvel apita o despertador, o povo liga, o chefe bufa. O mundo pega fogo todo dia a essa hora e me diz tudo o que eu quero ouvir: nada.
Apodreço livre nessa morte cotidiana onde somente os sonhos fazem cócegas. Depois eu nasço a seco outra vez. Outro parto, outro trauma. Pequenos relâmpagos pulsam com ruídos de uma letra só: "c!", "o!", "n!", "s!", "c!", "i!", "ê!", "n!", "c!", "i!", "a!", aí eu choro minha primeira palavra: "merda".
Me arrasto ao banho, café, ao chapa, e chego quase vivo ao trabalho. São onze horas e eu não vejo a hora de morrer outra vez.
Às quatro da manhã, feliz da vida, me preparo para mais uma morte certa. Cada cena dessa vida, desse dia, passa em um segundo pela minha cabeça e eu descubro que queria mais. Morro aos poucos, sozinho, sem socorro, mergulhando no concreto de sono que me separa do mundo outra vez.
Pior que acordar é ir dormir.
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