sábado, 13 de fevereiro de 2010

Laurentina Premium: pra você ficar de boa com tua raça, pára-choque de consiência, pra neguinho ficar de boa



Sabe que eu tive sorte de ter sido criada a cerveja Laurentina Premium bem nos primeiros meses em que cheguei aqui? Um ano depois eu posso dizer que sou um intoxicado-premium, ou algo assim. Pra neguinho como eu, que pauta os dias pela quantidade de cerveja que bebe (de uma a vinte, no máximo), isso faz sim algum sentido. Sou neto dum cara que bebe, ou bebia, não sei ao certo, muita cerveja. Ele, até onde sei, é descendente direto de holandeses com índios baianos, gente do sertão. Esse tipo de encontro, de europeu com birita, com índio, como se sabe, gera índios cachaceiros. Isso tudo num contexto mais antropológico, claro. A procriação baseada nesse tipo de união talvez não de muito mais sorte. Daí, mistura com português, preto e mais não-sei-o-quê, já viu: se não suja na entrada, suja na saída. E isso de ser disso ou daquilo, daqui ou dali, dessa ou doutra raça, aqui faz muito sentido. É, aqui, nesses países africanos por onde tenho desperdiçado meus sonhos e projetado meus almejos mais agudos. Faz sentido de um jeito que a nossa educação politicamente atormentada no Brasil não é capaz de traduzir direito. O caso é que agora eu não me sinto mais um pardo amarelado do meio da suruba étnica da nossa terra, um brasileiro qualquer, não faz sentido. Eu preciso saber e parecer que sou mulato. Preciso saber pra saber de onde vem a pedra apontada pra cabeça, pra estar preparado a responder como mulato. No final das contas, fico aqui me remoendo nas cotas genéticas da minha pele desfocada. Tem aquele tipo de gente que fala muito de energia. "Energia ruim", "energia boa", "puta vibe!", essas coisas de energia. Tem aquele tipo de gente branca que faz dread-looks nos cabelos pra mostar que afinal é branco só na aparência, mudando a aparência pra ficar um branco mais preto. Tem preto que tem um tipo específico de consciência, a tal "consistência negra" que a gente (que nasce no Brasil) gosta de ter. Mas eu não tenho consciência negra, não. Minha consciência é crespa, tal como denunciam meus cabelos, esses sim, pretos. E minha consciência tá lá, sempre amortecida por cerveja. Por isso mesmo que eu acho bom estar aqui. Fora as espetaculares desgraças e maltrapilhas conquistas pessoais, no fim Maputo pulsa mediocridade, salvo, no entanto, por sua versão premium da tradicional cerveja Laurentina. É mesmo boa.

Um comentário:

Marcelo Mahô disse...

Uma maravilha, você sabe elogiar uma loira!