quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Dois mil e menos



Desejo um 2012 repleto de menos coisas. Desejo um mundo menos mágico e menos besta, um mundo com menos papais noéis e apocalipses maias, católicos ou nucleares. Menos historinha, menos poesia, um pouco mais vida, talvez. Esse mundo, que eu teimo em odiar, sempre me surpreende quando se mostra nu. Quando ele, na forma de alguém, vomita sangue do lado de uma lixeira é que eu consigo enxerga-lo por entre as minhas pernas que pulam o sujeito como se fosse um buraco. Se é pra amar tem que amar isso também. Não consigo. Esqueço logo a droga do protetor solar, e dos ovos de páscoa, e digo, e sigo. O mundo fode todo mundo, porque todo mundo é mundo e o que se pode fazer é retribuir com um belo par de ombros, um par de vezes, pra cima e pra baixo. Do outro lado, bem do outro mesmo, mulatos afogam Yemanjás de plástico e pulam ondinhas no mar. Aqui, um resto se desdobra pra simular esperança. O mundo se veste de palhaços brancos macaqueando em cima dum nariz azul gigante. Praças, praias, picadeiros. 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1, não sei quantas vezes, bilhões ou milhares de vozes. Mundanos invertem a ordem pra manter a contagem. Haja coragem, haja fé, ninguém reage! O mundo me enjoa e gira à vontade. Qual o ano que vem foi feliz? O ano passado é feliz! O agora é sempre saudade e angústia. Felicidade só existe acompanhada de peru agridoce e bacalhau com batatas, e ninguém almoça isso assim quase nunca. Desejo um feliz ano velho pra todos, e que o pessoal aí que não tem mesmo como evitar vomitar sangue vomite a vontade, mas que vomite menos.

Um comentário:

Sergio Aires disse...

Não dá pra desejar um feliz ano novo quando existe a possibilidade dele ser pior. Desejo que você faça por onde. Abraço grande, Serginho.
Amo vocês 3.